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Manning, que serviu no Iraque em 2009 e 2010,
confessou vazar centenas de milhares de
documentos das guerras neste país e no
Afeganistão, que foram publicados
pelo Wikileaks. | Foto: Exército dos EUA |
Da Redação
O soldado norte-americano Bradley Manning foi condenado a 35 anos de prisão nesta quarta-feira (21) por vazar ao Wikileaks documentos secretos do governo, contendo detalhes das guerras no Iraque e no Afeganistão. Manning não pode se pronunciar após o anúncio de sua sentença, determinada pela juíza militar Coronel Denise Lind. Ele também foi exonerado do exército e removido da posição de soldado de primeiro posto, além de ficar sem toda a remuneração e benefícios.
Manning provavelmente irá servir sua sentença no Quartel Disciplinar em Fort Leavenworth, no Kansas. Ele já passou 1.182 dias em confinamento desde que foi preso de 2010, que serão diminuídos de sua pena. Somado a possíveis créditos por bom comportamento, ele pode ser elegível para liberdade condicional dentro de 8 anos, quando terá 33.
A promotoria afirmou que ele é um jovem “arrogante” que usurpou o direito do exército de decidir quais documentos devem permanecer secretos e pedia 60 anos de prisão ao considerar que Manning “merece passar o resto de sua vida na cadeia”. Já a defesa disse que o ex-soldado não deve permanecer mais de 25 anos detido, tempo que será necessário para que os documentos que divulgou não sejam mais considerados confidenciais.
Yochai Benkler, professor de Harvard que estudou o WikiLeaks e testemunhou na defesa de Manning, disse que essas reduções serão certamente um “alívio” para o soldado. Mas “de qualquer forma, são 35 anos. É isso que todos vão saber. Basicamente essa decisão causa mais danos à ordem constitucional dos Estados Unidos do que todas as revelações causaram aos interesses norte-americanos”, disse ele ao Huffington Post.
O grupo de apoiadores do ex-soldado argumentaram que a divulgação acelerou a retirada das tropas norte-americanas do Iraque e do Afeganistão e colaborou para causar as revoluções árabes em 2010 e 2011. Seus acusadores, apontando que Manning não poderia ter lido todos os 700 mil documentos que vazou, afirmaram que ele colocou a vida de soldados e informantes em risco de forma irresponsável.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos revelou que os documentos revelados por Manning não causaram a morte de nenhum informante norte-americano.
Dentre o material divulgado, está um vídeo de um helicóptero que matou civis – incluindo dois jornalistas – atacando Bagdá, além de mais de 500 mil relatórios de estratégias de guerra do Iraque e do Afeganistão.
Antes do julgamento, Manning se declarou culpado de 10 acusações menores que o dariam uma sentença de 20 anos. Mas os promotores militares insistiram em tentar provar que ele era culpado de outras 21 acusações, inclusive ajudando o inimigo. Ele foi considerado inocente dessa acusação, que poderia condená-lo à prisão perpétua.
No final do julgamento, que durou 38 dias, o advogado de defesa David Coombs declarou que Manning era muito mais complexo do que ambos os lados afirmavam. “O governo rotulou ele como um traidor, um informante. Outros o rotularam como um herói. Ambas são generalizações. Eles ignoram quem ele é como ser humano”, disse Coombs. Ele fez referências às dificuldades de Manning dentro do exército por ser uma pessoa que considerava a transição de gênero.
Sob a lei militar, a sentença de Manning será revisada pelo major general Jeffrey Buchanam, comandante do Distrito Militar de Washington. Ele pode reduzir a sentença ou lançar condenações sobre ele. Depois disso, o veredito será revisto pelo Tribunal Criminal de Apelações do Exército e pelo Tribunal de Apelações das Forças Armadas.
Na prisão onde esteve detido até agora, Manning permaneceu por nove meses em confinamento solitário e foi diversas vezes submetido a situações humilhantes, como ser forçado a ficar nu durante a noite. De acordo com o relator da ONU sobre tortura, Juan Mendez, o tratamento que ele recebeu na prisão de Quantico foi cruel, desumano e degradante. A juíza Lind considerou o tratamento “excessivo” e concedeu uma redução de mais 112 dias por ter suportado essas condições.
Em Leavenworth, ele poderá responder às cartas de apoiadores e, de acordo com seu advogado, as condições “não são como as de Quantico”. Manning não poderá dar entrevistas à mídia.
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Apoiadores de Manning protestaram na manhã de hoje durante o pronunciamento da sentença | Foto: Divulgação/ Bradleymanning.org |
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