Esta rede, controlada pelo Sistema Echelon [2] , através de 120 satélites Vortex, intercepta todo tipo de comunicações que utilizam instrumentos eletrônicos e digitais (as comunicações telefônicas, o fax e o correio eletrônico) em todo o mundo. A capacidade de interceptação de comunicações privadas e de obter informações políticas, econômicas, tecnológicas e comerciais é de 2.000 milhões de informações por dia. Seus objetivos não são somente políticos, para a segurança do Estado e contra possíveis atividades terroristas e subversivas, más também econômicas na competição no livre mercado internacional. Quando o fato se tornou público, os principais governantes de alguns dos países apontados, evitaram qualquer comentário a respeito, argumentando razões de Segurança de Estado.
Dado o caráter delicado do assunto, os deputados europeus não se inclinam por denunciar nominalmente ao Reino Unido. Enquanto que, os demais Governos não quiseram, até agora, explorar um assunto que poderia pôr em entredito suas relações comerciais transatlânticas. Graham Watson, britânico, presidente da comissão de liberdades do Parlamento Europeu, reconhece que, em troca, a atitude que podem adotar os diferentes grupos políticos é imprevisível. O mesmo admite que os fatos “são graves se são corretos”. Suas palavras recordam aquelas pronunciadas em 1988 pelo antigo comissário europeu para assuntos industriais Martín Bangeman, para quem “se este sistema (Echelon) existe, constitui um ataque intolerável contra as liberdades individuais e a segurança dos Estados. (ZECCHINI, 2000: 3).
Ao fim da Guerra Fria promoveu-se o entendimento de que o mundo entraria em uma época de paz e que como conseqüência, não teria sentido manter a corrida armamentista nem os sofisticados sistemas de espionagem. Isto, inicialmente, conduziu a pensar que os serviços de espionagens sofreriam cortes orçamentários e perdas de influência; ao contrário, estes serviços passaram a ser utilizados na guerra comercial globalizada. Inclusive, no caso dos Estados Unidos, esta rede se manteve intacta e teve sua área de atuação: a NSA, um dos serviços secretos menos conhecidos, emprega 20.000 pessoas e tem um orçamento de dez bilhões de dólares.
O Parlamento Europeu possui informações detalhadas sobre esta rede de espionagem e da utilização de suas informações para favorecer empresas norte-americanas na guerra comercial. A situação se torna mais delicada ao envolver um país membro da União Européia, o Reino Unido, que possui um papel chave nesta rede de espionagem.
O Centro de Comunicações do Governo (GCHQ) britânico emprega cerca de 15.000 pessoas em missões ofensivas (captação e análise de informações estrangeiras) e defensivas (codificação e proteção das comunicações britânicas). Além de contar com uma dezena de centros no Reino Unido, o GCHQ organizou estações de escuta em Gibraltar, Belize, Chipre, Oman, Turquia e Austrália. A chamada Divisão Z é encarregada especificamente das relações com a agência norte-americana.
A participação do Reino Unido na rede Echelon coloca a maioria de seus sócios europeus em uma situação particularmente incômoda. Londres se situaria em uma posição “ambígua” se, como denunciam seus adversários, a rede Echelon se converteu em uma ferramenta de “espionagem econômica”. Para o especialista em Internet François-Emile Truchet, o Reino Unido pratica a ambivalência de ser um país europeu que espiona seus aliados.
A cumplicidade de Londres com Washington pode abrir um novo conflito no diálogo europeu, sobre tudo se, como pretendem os especialistas, as escutas se dirigem especialmente contra a França e a Itália. Inclusive chegou a falar-se da existência de uma cláusula especial no acordo UK-USA, segundo a qual o sistema de escutas britânico substituiria automaticamente ao estadunidense no caso de que a justiça norte-americana chegasse a proibir a interceptação de comunicações privadas por parte da NSA.
O sistema de escutas francês, por exemplo, não tem a mesma capacidade do britânico, que se torna muito superior dentro da rede Echelon com o apoio dos EE UU. (EL PAÍS, 23-fevereiro.-2000: 3).
Exemplos de Espionagem Global
Apontaremos abaixo algumas notícias que são mais conhecidas pelo publico em geral:
Em 1993, José Ignácio López de Arriortúa, diretor de nível superior da General Motors de Detroit, deixou
a empresa e se colocou a serviço da Wolkswagen na Alemanha, levava consigo documentos confidenciais e disquetes repletos de informações e segredos industriais. Esta mudança de emprego provocou uma verdadeira batalha jurídica entre a Opel, filial alemã da General Motors, e a empresa Wolkswagen, que foi acusada de roubo de segredos industriais que a beneficiava na competição comercial. A querela judicial se estendeu por quatro anos. A policia obteve provas que incriminavam a empresa alemã e logo a imprensa internacional anunciou “o julgamento do século”. Mas, surpreendentemente, em janeiro de 1997, se alcançou um milagre: a Wolkswagen aceitou um acordo em que pagaria dez bilhões de pesetas a General Motors.
Um antigo oficial superior da Bundeswehr, o exército alemão, Erich Schmidt-Eenboom, hoje diretor do instituto alemão de estudos estratégicos, facilitou a imprensa alemã sua própria versão do que sucedeu: a Administração Clinton havia pressionado a General Motors para que chegasse a um acordo amistoso, com o objetivo de não revelar o papel de “Hortênsia III”, a base norte-americana de Bad Aibling, situada na Baviera. Durante a guerra fria, a NSA havia instalado na Baviera dois centros de escuta ultra-sofisticados, em Bad Aibling (aliás “Hortênsia III”) e em Gablingen: antenas parabólicas de trezentos metros de diâmetro e de cem metros de altura; instalações de doze andares abaixo da terra; significativa quantidade de computadores com lógicas seletivas que permitem gravar conversas que incluem palavras determinadas ou seqüências de frases concretas.
Dois formidáveis instrumentos de espionagem eletrônica dirigida para o leste e capazes de interceptar, analisar e memorizar qualquer comunicação. Terminada a guerra fria, “Hortênsia III” foi orientada para a Sérvia e, em seu tempo livre, foi encarregada de vigiar o conjunto de trafico telefônico alemão, e de uma parte dos países limítrofes. Segundo Erich Schmidt-Eenboom, foram graças à “Hortênsia III” que a NSA descobriu que o trânsfuga da General Motors escondia os documentos subtraídos e, através da CIA, comunicou esta informação ao quartel geral da GM em Detroit. Algo difícil de explicar pelos Estados Unidos a seus “aliados” europeus. (FERNÁNDEZ, 1999: 13).
Em 1994, os Estados Unidos da América do Norte e a União Européia tinham alguns interesses divergentes nas negociações dos acordos comerciais do GATT; os representantes norte-americanos, reunião, após reunião, manifestavam através de suas atitudes, conhecer as opiniões dos representantes europeus e apresentavam argumentos bem fundamentados para contra-argumentar com as posições dos europeus. O motivo desta premonição dos norte-americanos é muito simples: a CIA, através da rede informática, havia penetrado nos computadores da Comissão Européia e obtido as informações que iam parar nas mãos dos representantes norte-americanos. Outros fatos semelhantes denunciados são: em 1990 os Estados Unidos da América do Norte tiveram acesso as negociações secretas e conseguiram persuadir a Indonésia de que incluísse uma grande empresa norte-americana de telecomunicações em um negócio que se destinava a uma empresa japonesa; a empresa norte-americana Raytheon ganhou uma concorrência da francesa Thomson-CSF, para a instalação de um sistema de radar de vigilância da Amazônia (Brasil); a Airbus Industries perdeu um contrato para a Boeing e a McDonnell Douglas, também graças à obtenção de informações privilegiadas obtidas através da espionagem.
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O alcance do sistema Echelon
Os defensores da teoria de que o Echelon existe alegam que tudo o que se fala pelo telefone ou transmite pela Internet e pelo fax, é controlado, em tempo integral, via satélite, pelo Sistema Echelon, e que este é uma sofisticada máquina cibernética de espionagem, criada e mantida pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, com a participação direta do Reino Unido, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia.
Com suas atividades iniciadas nos anos 80, o Echelon terá, como embrião histórico, o Pacto denominado Ukusa, firmado secretamente pela Grã-Bretanha e pelos EUA, no início da Guerra Fria.
Destinado à recolha e troca de informações, o Pacto UK-USA resultou, nos anos 70, na instalação de estações de rastreamento de mensagens enviadas desde e para a Terra por satélites das redes Intelsat (International Telecommunications Satellite Organisation) e Inmarsat. Outros satélites de observação foram enviados ao espaço para a escuta das ondas de rádio, de celulares e para o registro de mensagens de correios eletrônicos. Na Inglaterra, o órgão governamental associado à NSA é a GCHQ (Britain’s Government Communications Headquarters). A maior base eletrônica de espionagem no mundo é a Field Station F83, da NSA e se situa em Menwith Hill, Yorkshire, na Grã-Bretanha.
Além disto, já sob o guarda-chuva do Echelon, seriam captadas as mensagens de telecomunicações, inclusive de cabos submarinos e da rede mundial de computadores, a lnternet. Em linguagem técnica, o objetivo dessa rede (network) é o de captar sinais de inteligência, conhecidos como
SIGINT (signals intelligence).
O segredo tecnológico do Echelon consiste na interconexão de todos os sistemas de escuta. A massa de informações é espetacular e, para ser tratada, requer uma triagem pelos serviços de espionagem dos países envolvidos, por meio de instrumentos da inteligência artificial.
“A chave da interpretação — afirma Nicky Hager; pesquisador do tema — reside em poderosos computadores que perscrutam e analisam a massa de mensagens para delas extraírem aquelas que apresentam algum interesse. As estações de interceptação recebem milhões de mensagens destinadas às estações terrestres credenciadas e utilizam computadores para decifrar as informações que contêm endereços ou textos baseados em palavras-chaves pré-programadas”.
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