A Rússia denunciou que o projeto de resolução que o Reino Unido levará nesta quarta-feira ao Conselho de Segurança da ONU para pedir a autorização de uma intervenção militar na Síria é uma manobra tática para depois justificar um ataque unilateral contra o regime do presidente Bashar al Assad.
Os governo dos Estados Unidos, Reino Unido e França avançam no planejamento para realizar um ataque de 48 horas contra a Síria, informou o site do jornal britânico Financial Times. Segundo a publicação, os alvos seriam instalações militares e o ataque deve acontecer no final de semana. A decisão, no entanto, não tem o apoio da Rússia e do Irã, que alertaram a comunidade internacional sobre possíveis intervenções militares contra a Síria podem ser catastróficas para a região.
Nesta terça-feira (27), o governo do presidente Bashar Assad prometeu usar "todos os meios" para conter um ataque ao país, mas cresce o número de países que se mostram favoráveis a uma ação militar contra a Síria, principalmente se ficar provado que a morte de centenas de civis na quarta-feira nas proximidades de Damasco foi provocada por armas químicas.
Segundo o jornal, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente da França, François Hollande, vão convocar seus conselhos de segurança nacional para concluir os planos de ataque. Cameron antecipou a volta do recesso de verão do Parlamento para quinta-feira para discutir a questão síria.
Em uma reunião de emergência realizada hoje no Cairo, a Liga Árabe responsabilizou o governo sírio pelo suposto ataque com armas químicas e pediu também que os responsáveis sejam levados à justiça e que o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) supere suas divergências para implementar "medidas de dissuasão contra os perpetradores desse crime atroz". A Síria está suspensa da Liga Árabe desde 2011.
A Casa Branca defendeu a necessidade de uma resposta militar aos recentes ataques com armas químicas ocorridos na Síria, mas negou que qualquer eventual ação tenha como objetivo a deposição do presidente Bashar Assad. O secretário de Imprensa da Casa Branca, Jay Carney, argumentou em entrevista coletiva concedida hoje que os Estados Unidos e mais 188 países são signatários de uma convenção contrária ao uso de armas químicas. Segundo ele, todos esses países têm a responsabilidade de assegurar o respeito à convenção.
Carney disse ainda que a resposta deve ter como alvo claro a violação a essas normas. "Mas a mudança de regime não está entre as opções que estamos negociação", ressalvou. Qualquer mudança de liderança na Síria deve ocorrer por meio de "negociações políticas", concluiu. Preocupado com a possibilidade de a Síria atacar o Estado judeu em retaliação a eventuais bombardeios norte-americanos, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que seu país responderá "com força" caso venha a sofrer um ataque militar sírio.
"Tanto Londres como Washington disseram que querem legitimidade para um ataque à Síria. Imaginam o resultado de sua proposta, mas o importante para eles é a formalidade de se dirigir ao Conselho de Segurança", disse o chefe do comitê de Assuntos Internacionais da Duma (Câmara dos Deputados), Alexei Pushkov.
O deputado, do partido governista Rússia Unida, afirmou à agência "Interfax" que a proposta de Londres busca justificar a iminente operação militar sem mandato da ONU com o argumento de que até o último momento se tentou convencer o Conselho de Segurança sobre a necessidade de intervir na Síria.
"Querem mostrar que levam em conta o Conselho de Segurança. Pode-se inclusive prever o desenrolar dos eventos. Se a resolução proposta por Londres for rejeitada, Estados Unidos e Reino Unido dirão que têm certeza de suas razões e da necessidade de atacar a Síria", argumentou Pushkov.
O chefe do Conselho de Política Externa e Defesa russo, Fiodor Lukanov, disse que o projeto de resolução britânico, que em palavras de Cameron pede autorização para tomar as "medidas necessárias para proteger os civis" na Síria, será vetado como em outras ocasiões pela Rússia e a China.
"É óbvio que a Rússia e a China não permitirão sua aprovação, e acho que a proposta desta resolução é uma mera formalidade para o Reino Unido, Estados Unidos e outros partidários da intervenção militar", criticou.
O analista político russo acredita que os países da aliança contra Assad "necessitam que (a resolução) seja formalmente rejeitada para poder dizer que a postura destrutiva de alguns países não os permite atuar de acordo com o procedimento, e como não podem seguir inativos devem intervir com base em suas próprias decisões".
"Engajar nosso exército na Síria sem que exista ameaça direta aos Estados Unidos e sem uma autorização prévia do Congresso viola a separação de poderes claramente delineada na Constituição", argumenta Rigell na carta. Uma cópia do texto foi obtida hoje pela Associated Press. (AE)
Embora tanto em Londres como em Washington se diga que nenhuma decisão está tomada, tudo aponta para um ataque iminente contra instalações vitais para o aparato militar do regime sírio, em castigo pelo suposto uso de armas químicas nos arredores de Damasco.
Mas a possibilidade de uma intervenção militar norte-americana na Síria já começa a enfrentar alguma oposição no Congresso dos Estados Unidos. Tanto na Câmara quanto no Senado, congressistas democratas e republicanos exigem que o presidente Barack Obama busque a autorização do Congresso para qualquer eventual ataque contra a Síria. Ao mesmo tempo, depois de mais de uma década de guerras mortíferas e custosas em países muçulmanos distantes, os norte-americanos opõem-se ao engajamento direto em um novo conflito na região.
O governo sírio "deve ser responsabilizado pela violência indiscriminada" e também pelos "desprezíveis" ataque com armas químicas, defendeu o senador democrata Tim Kaine. "Mas os Estados Unidos não devem se engajar em uma ação militar sem autorização do Congresso", pondera. Na Câmara dos Representantes, o deputado Scott Rigell conclama seus colegas a assinarem uma carta endereçada a Obama na qual é pedido a ele que reúna o Congresso e busque autorização do legislativo para qualquer eventual ação militar.
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