Ruim para o produtor e para o consumidor
A introdução de transgênicos na natureza expõe nossa
biodiversidade a sérios riscos, como a perda ou alteração do patrimônio
genético de nossas plantas e sementes e o aumento dramático no uso de
agrotóxicos. Além disso, ela torna a agricultura e os agricultores reféns de
poucas empresas que detêm a tecnologia, e põe em risco a saúde de agricultores
e consumidores. O Greenpeace defende um modelo de agricultura baseado na
biodiversidade agrícola e que não se utilize de produtos tóxicos, por entender
que só assim teremos agricultura para sempre.
Os transgênicos, ou organismos geneticamente modificados,
são produtos de cruzamentos que jamais aconteceriam na natureza, como, por
exemplo, arroz com bactéria.
Por meio de um ramo de pesquisa relativamente novo (a
engenharia genética), fabricantes de agroquímicos criam sementes resistentes a
seus próprios agrotóxicos, ou mesmo sementes que produzem plantas inseticidas.
As empresas ganham com isso, mas nós pagamos um preço alto: riscos à nossa
saúde e ao ambiente onde vivemos.
O modelo agrícola baseado na utilização de sementes
transgênicas é a trilha de um caminho insustentável. O aumento dramático no uso
de agroquímicos decorrentes do plantio de transgênicos é exemplo de prática que
coloca em cheque o futuro dos nossos solos e de nossa biodiversidade agrícola.
Diante da crise climática em que vivemos, a preservação
da biodiversidade funciona como um seguro, uma garantia de que teremos opções
viáveis de produção de alimentos no futuro e estaremos prontos para os efeitos
das mudanças climáticas sobre a agricultura,
Nesse cenário, os transgênicos representam um duplo
risco. Primeiro por serem resistentes a agrotóxicos, ou possuírem propriedades
inseticidas, o uso contínuo de sementes transgênicas leva à resistência de
ervas daninhas e insetos, o que por sua vez leva o agricultor a aumentar a dose
de agrotóxicos ano a ano. Não por acaso o Brasil se tornou o maior consumidor
mundial de agrotóxicos em 2008 – depois de cerca de dez anos de plantio de
transgênicos – sendo mais da metade deles destinados à soja, primeira lavoura
transgênica a ser inserida no País.
Além disso, o uso de transgênicos representa um alto
risco de perda de biodiversidade, tanto pelo aumento no uso de agroquímicos
(que tem efeitos sobre a vida no solo e ao redor das lavouras), quanto pela
contaminação de sementes naturais por transgênicas. Neste caso, um bom exemplo
de alimento importante, que hoje se encontra em ameaça, é o nosso bom e
tradicional arroz.
A diversidade do arroz brasileiro congrega desde o arroz
branco plantado no Rio Grande do Sul, que é adaptado a temperaturas amenas,
àquele plantado no interior do nordeste, vermelho, resistente a climas quentes
e secos. Ambos são necessários, sem seus respectivos climas e solos, para
garantir que o cidadão brasileiro tenha sempre arroz em seu prato, em qualquer
região do país.
Rotulagem como direito básico“É melhor prevenir do que
remediar”. Esta expressão cai como uma luva quando falamos de liberação e
consumo de transgênicos.
Consumimos hoje diversos alimentos com ingredientes à
base de transgênicos, produzidos para matar insetos e resistir a agrotóxicos.
Você deve achar que exaustivos testes foram feitos, e todas as pesquisas que
apontam possíveis riscos foram levadas em consideração, para que transgênicos
fossem liberados. No entanto, isso não acontece.
Não existe consenso na comunidade científica sobre a
segurança dos transgênicos para a saúde humana e o meio ambiente. Testes de
médio e longo prazo, em cobaias e em seres humanos, não são feitos, e
geralmente são repudiados pelas empresas de transgênicos.
Neste contexto, o Greenpeace considera que a liberação de
transgênicos é uma afronta ao princípio da precaução, e uma aposta de quem não
tem compromisso com o futuro da agricultura, do meio ambiente, e do planeta.
Desde que os transgênicos chegaram clandestinamente ao
Brasil, em 1997, o Greenpeace trabalhou para que o consumidor pudesse
identificá-los e decidir se compraria ou não.
Em 2003, foi publicado o decreto de rotulagem
(4680/2003), que obrigou empresas da área da alimentação, produtores, e quem
mais trabalha com venda de alimentos, a identificarem, com um “T” preto, sobre
um triangulo amarelo, o alimento com mais de 1% de matéria-prima transgênica.
A resistência das empresas foi muito grande, e muitas
permanecem até hoje sem identificar a presença de transgênicos em seus
produtos. O cenário começou a mudar somente após denúncia do Greenpeace, em
2005, de que as empresas Bunge e Cargill usavam transgênicos sem rotular, como
determina a lei. O Ministério Público Federal investigou e a justiça determinou
que as empresas rotulassem seus produtos, o que começou a ser feito em 2008.
A partir de 2007, parlamentares da bancada ruralista,
impulsionados pela indústria da alimentação e empresas de transgênicos,
propuseram projetos de lei que visam acabar com a rotulagem. O Greenpeace está
de olho nestas iniciativas que visam bulir com nosso acesso à informação.
A rotulagem de produtos transgênicos é um direito básico
dos consumidores. Todos nós temos o pleno direito de saber o que consumimos.
Fome no mundo: a solução é agricultura para sempre
Para os agricultores que cultivam plantações
convencionais ou orgânicas, a contaminação e a inserção em massa de sementes
transgênicas no mercado têm implicado em prejuízo. Eles têm perdido o direito
de vender suas safras como convencionais ou orgânicas, que são mais valorizadas
no mercado, e ainda por cima são obrigados a pagarem royalties por algo que
eles não queriam.
Os defensores dos transgênicos dizem que eles podem ser
uma solução ao problema da fome no mundo, pois podem levar ao aumento da
produção de alimentos. Mas realidade é bem diferente.
A totalidade dos transgênicos plantados no Brasil, e a
quase totalidade dos transgênicos plantados no mundo são plantas resistentes a
agrotóxicos ou com propriedades inseticidas. A produtividade dos transgênicos
não é superior à dos convencionais e orgânicos, e a semente é mais cara por
conta dos royalties a serem pagos, o que aumenta o custo de produção.
Considerando isso, e somando-se seus impactos sobre a
biodiversidade agrícola e aumento no uso de agrotóxicos, só uma conclusão é
possível: os transgênicos são um problema, e não a solução, para a fome no
mundo.
Soluções
- Proibição de aprovações de novas culturas transgênicas,
em especial aquelas que são a base da alimentação de nossa população.
- Rotulagem dos produtos transgênicos, para atender
plenamente a um direito do consumidor de saber o que está comprando.
- Fiscalização e cuidado na cadeia para que não haja
contaminação.
Monsanto [DOCUMENTÁRIO]
O documentário "O Mundo segundo a Monsanto",
exibido nesta terça-feira pela TV franco-alemã Arte, traça a história da
principal fabricante de organismos geneticamente modificados (OGM), cujos grãos
de soja, milho e algodão se proliferam pelo mundo, apesar dos alertas de
ambientalistas.
A diretora, a francesa Marie-Monique Robin, baseou seu filme
- e um livro de mesmo título - na empresa com sede em Saint-Louis (Missouri,
EUA), que, em mais de um século de existência, foi fabricante do PCB
(piraleno), o agente laranja usado como herbicida na guerra do Vietnã, e de
hormônios de aumento da produção de leite proibidos na Europa.
O documentário destaca os perigos do crescimento exponencial
das plantações de transgênicos, que, em 2007, cobriam 100 milhões de hectares,
com propriedades genéticas patenteadas em 90% pela Monsanto.
A pesquisa durou três anos e a levou aos Estados Unidos e a
países como Brasil, Índia, Paraguai e México, comparando as virtudes
proclamadas dos OGM com a realidade de camponeses mergulhados pelas dívidas com
a multinacional, de moradores das imediações das plantações pessoas que sofrem
com problemas de saúde ou de variedades originais de grãos ameaçadas pelas
espécies transgênicas.
Robin relatou em entrevistas divulgadas pela produção do
filme que tentou em vão obter respostas da Monsanto para todas essas
interrogações, mas que a companhia decidiu "não avaliar" seu
documentário.
Um capítulo do livro, intitulado "Paraguai, Brasil,
Argentina: a República Unida da Soja", relata o ingresso desse cultivo
nesses países, que estão hoje entre os maiores produtores do mundo, por meio de
uma política de fatos consumados que obrigou as autoridades do Brasil e do
Paraguai a legalizar centenas de hectares plantados com grãos contrabandeados.
A legalização beneficiou obviamente a Monsanto, que pôdo
cobrar assim os royalties por seu produto.
Marie-Monique Robin é uma famosa jornalista independente,
que, em 2004, gravou um documentário sobre a Operação Condor chamado
"Esquadrões da Morte: A Escola Francesa"- para o qual entrevistou
vários dos maiores repressores das ditaduras militares dos anos 70.
Matéria da AFP, no UOL Notícias.
Alguns documentos exibidos no documentário,
Aqui!
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