O nível de radiação dentro de um reator danificado na usina nuclear de Fukushima no Japão atingiu um recorde, e é o pior desde que a região sofreu o colapso há quase seis anos. As últimas leituras colocam um grande desafio para as autoridades na tarefa de demolir a unidade atingida.
O nível de radiação dentro da estrutura de contenção do reator número dois em Fukushima alcançou 530 sieverts por hora – um valor descrito por especialistas como “inimaginável”. As leituras, realizadas pela Tokyo Electric Power Co. Holdings Inc. (Tepco), foram feitas perto da entrada do espaço imediatamente abaixo da estrutura de pressão, que contém o núcleo do reator.
Os números dentro da unidade excede bastante o registro anterior, que era de 73 sieverts por hora, registrados pouco depois do incidente em março de 2011. A Tepco fez as leituras ao analisar a interferência eletrônica causada pela radiação em imagens de vídeo. A companhia diz que a técnica tem uma margem de erro de mais ou menos 30% (mesmo na margem baixa, os níveis não são inferiores a 370 sieverts por minuto, e podem chegar tão alto quanto 690 sieverts por minuto).
Não é nem preciso dizer que a usina não é adequada para abrigar vida humana. A dose de um único sievert é o suficiente para causar enjoos e náuseas. A exposição a quatro ou cinco sieverts é capaz de matar metade das pessoas após um mês, enquanto uma única dose de 10 sieverts é o suficiente para matar alguém dentro de semanas.
Os níveis crescentes de radiação estão dificultando os planos de demolição da usina. De acordo com o Instituto Nacional de Ciências Radiológicas do Japão, os médicos não estão preparados para tratar pacientes expostos a essa quantidade de radiação. Esse é um grande problema para a Tepco, que planeja remover detritos de combustível como parte do processo de desativação. A demolição de Fukushima está agendada para começar em 2021 e pode levar quase meio século para ser concluída.
Funcionários da Tepco não têm certeza do porquê os níveis de radiação apresentarem essa tendência ascendente dramática. Ou as leituras anteriores foram insuficientes ou incorretas, ou as condições dentro da usina estão mudando. O problema é que, a condição do interior da instalação ainda é um grande mistério. Os números elevados sugerem que parte do combustível derretido que escapou da estrutura de pressão está nas proximidades. Se isso for confirmado, seria a primeira vez que se detectaram restos contaminados em qualquer um dos três reatores que sofreram fusões nucleares. A Tepco não conseguiu confirmar a condição do combustível derretido devido às condições extremas e inóspitas internas.
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Tepco descobriu um buraco de dois metros na grelha de metal sob o vaso de pressão na estrutura de contenção primária do reator. Imagem: Tepco |
Além disso, um veículo operado remotamente descobriu um buraco de dois metros de diâmetro na grelha de metal sob o vaso de pressão na estrutura de contenção primária do reator. A companhia suspeita que o corte foi criado pelo combustível nuclear que reagiu e então atravessou o vaso depois que tsunami atingiu o sistema de resfriamento de Fukushima.
“Pode ter sido causado pelo combustível nuclear que derreteu e fez um buraco na estrutura, mas essa é apenas uma hipótese nesse estágio”, explicou um porta-voz da Tepco à AFP. “Acreditamos que as imagens captadas ofereçam informações muito úteis, mas ainda precisaremos investigar, já que é muito difícil presumir a condição atual lá dentro”.
É mais fácil falar da investigação do que realizá-la. Tepco espera enviar um robô recém desenvolvido para o reator número dois, mas não parece que será possível agora, dada a intensa radiação lá dentro. A máquina operada remotamente foi feita para aguentar a exposição de um total de 1.000 sieverts. Nos níveis anteriores de 73 sieverts por hora, ele conseguiria funcionar por cerca de 10 horas. Mas nesse novo recorde, ele não ia durar muito mais do que duas horas. Consequentemente, a Tepco está planejando enviar o robô para o reator número um em março, enquanto os planos para o reator número dois fica em espera.
Doideira, com certeza. Quando a energia nuclear dá errado, ela dá muito errado.
Imagem do topo: AP.
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